A maravilhosa máquina cerebral destrói a mitologia do amor? Ainda não, talvez nunca. Mas já se sabe muito: as regiões activadas quando vemos a pessoa de quem gostamos ou os químicos libertados. E é tudo verdade: o estômago apertado, o coração acelerado, o vício, a intensidade do primeiro ano de relação. O amor é a droga. E hoje é Dia dos Namorados.
A base neurológica do amor romântico é o título insosso de um artigo científico publicado em 2000, que se propunha pela primeira vez olhar para o cérebro de 17 pessoas e ver quais as áreas que ficavam luminosas perantefotografias dos seus amados. Os investigadores Andreas Bartels e Semir Zekl, que na altura trabalhavam na University College de Londres, escolheram voluntários que diziam estar "verdadeiramente, profundamente, loucamente apaixonados" por alguém e resolveram submetê-los a uma máquina que forma imagens tridimensionais do cérebro por ressonância magnética.
Os observados eram analisados enquanto viam fotografias dos seus mais-que-tudo que iam passando entre fotografias de amigos do mesmo sexo que o/a companheiro/a. No cérebro, a afluência especial de oxigénio a determinadas regiões era registada pela máquina e denunciava pela primeira vez as redes complexas associadas ao amor e que permitem alguém dizer palavras como "verdadeiramente", "profundamente" ou "loucamente" num contexto piroso, mas completamente justificável com um "deixa lá, ele/ela está apaixonado/a".
Sabe-se hoje que existem 12 regiões do cérebro que são recrutadas quando pensamos na pessoa que amamos. Stephanie Ortigue, uma investigadora da Universidade de Siracusa, nos Estados Unidos, analisou com colegas a escassa bibliografia sobre a detecção destas regiões e verificou que existem diferenças quando se sente o amor de paixão, e quando se sente o amor incondicional (o sentimento que se tem relativo a pessoas doentes, por exemplo) e o amor maternal.
Apesar de todos facilitarem a criação de ligações entre pessoas, existem algumas áreas exclusivas no caso do sentimento celebrado no Dia de São Valentim (hoje, portanto), como a área tegmentar ventral e o núcleo caudado. A primeira está associada aos sentimentos de prazer e de ligação com o par, e o segundo à representação de objectivos,àdetecção de eventuais recompensas e expectativas, e ainda à preparação para agir em determinado sentido, explica o artigo da investigadora, publicado no ano passado na revista Journal of Sexual Medicine.
As imagens por ressonância magnética mostram que o amor é complexo. "Apesar de muitas teorias da emoção terem incluído o amor como uma emoção básica, é mais do que isso", disse Ortigue, citada pelo jornal britânico The Independent. "O amor inclui emoções básicas e emoções complexas, motivações direccionadas para objectivos, imagens do corpo, cognição e apreciação."
Não à dor, sim ao vício...
A ligação do amor à dor é um dos lados dessa complexidade. Se a dor dos amantes pode ser uma obsessão poética (ou real - há gente que se mata por amor), também há o inverso, já que o amor pode ajudar a suprimir ou atenuar a dor.
Algumas áreas cerebrais descritas por Stephanie Ortigue são centros importantes que reagem à dopamina, um neurotransmissor (uma molécula libertada no cérebro que certas regiões de neurónios estão preparadas para reconhecer, desencadeando reacções) que está associado ao prazer.
Uma equipa de investigadores da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, percebeu que os circuitos activados no cérebro quando estamos apaixonados têm semelhanças com os activados quando sentimos dor e tentou perceber se existe uma ligação entre eles.
A equipa dos Estados Unidos pegou em voluntários que estavam a namorar há menos de um ano e procurou perceber o que é que a observação de fotografias dos parceiros fazia quando sentiam uma dor causada por uma madeira aquecida que os cientistas lhes colocavam na mão.
Os observados eram analisados enquanto viam fotografias dos seus mais-que-tudo que iam passando entre fotografias de amigos do mesmo sexo que o/a companheiro/a. No cérebro, a afluência especial de oxigénio a determinadas regiões era registada pela máquina e denunciava pela primeira vez as redes complexas associadas ao amor e que permitem alguém dizer palavras como "verdadeiramente", "profundamente" ou "loucamente" num contexto piroso, mas completamente justificável com um "deixa lá, ele/ela está apaixonado/a".
Sabe-se hoje que existem 12 regiões do cérebro que são recrutadas quando pensamos na pessoa que amamos. Stephanie Ortigue, uma investigadora da Universidade de Siracusa, nos Estados Unidos, analisou com colegas a escassa bibliografia sobre a detecção destas regiões e verificou que existem diferenças quando se sente o amor de paixão, e quando se sente o amor incondicional (o sentimento que se tem relativo a pessoas doentes, por exemplo) e o amor maternal.
Apesar de todos facilitarem a criação de ligações entre pessoas, existem algumas áreas exclusivas no caso do sentimento celebrado no Dia de São Valentim (hoje, portanto), como a área tegmentar ventral e o núcleo caudado. A primeira está associada aos sentimentos de prazer e de ligação com o par, e o segundo à representação de objectivos,àdetecção de eventuais recompensas e expectativas, e ainda à preparação para agir em determinado sentido, explica o artigo da investigadora, publicado no ano passado na revista Journal of Sexual Medicine.
As imagens por ressonância magnética mostram que o amor é complexo. "Apesar de muitas teorias da emoção terem incluído o amor como uma emoção básica, é mais do que isso", disse Ortigue, citada pelo jornal britânico The Independent. "O amor inclui emoções básicas e emoções complexas, motivações direccionadas para objectivos, imagens do corpo, cognição e apreciação."
Não à dor, sim ao vício...
A ligação do amor à dor é um dos lados dessa complexidade. Se a dor dos amantes pode ser uma obsessão poética (ou real - há gente que se mata por amor), também há o inverso, já que o amor pode ajudar a suprimir ou atenuar a dor.
Algumas áreas cerebrais descritas por Stephanie Ortigue são centros importantes que reagem à dopamina, um neurotransmissor (uma molécula libertada no cérebro que certas regiões de neurónios estão preparadas para reconhecer, desencadeando reacções) que está associado ao prazer.
Uma equipa de investigadores da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, percebeu que os circuitos activados no cérebro quando estamos apaixonados têm semelhanças com os activados quando sentimos dor e tentou perceber se existe uma ligação entre eles.
A equipa dos Estados Unidos pegou em voluntários que estavam a namorar há menos de um ano e procurou perceber o que é que a observação de fotografias dos parceiros fazia quando sentiam uma dor causada por uma madeira aquecida que os cientistas lhes colocavam na mão.
O que os investigadores descobriram é que a percepção da dor era reduzida quando observavam a fotografia dos namorados em relação a fotografias de conhecidos. "Um dos locais-chave [medidos através de ressonância magnética] é o nucleus accumbens, um centro para a recompensa de vícios associados aos opiáceos, cocaína e outras drogas", explicou Jarred Younger, primeiro autor do artigo publicado sobre esta descoberta na revista Public Library of Science One, que saiu em 2010."Quando as pessoas estão nesta fase apaixonada do amor, que consome, existem alterações significativas no seu estado de humor que têm impacto na experiência da dor", disse em comunicado Sean Mackey, da Universidade de Stanford, que liderou o estudo. Os comportamentos, segundo os cientistas, são sintomáticos, as pessoas preocupam-se com o seu parceiro, estão extremamente concentrados na pessoa e pensam nela sempre que estão longe. "Exactamente como alguém que está viciado em drogas", disse por sua vez Younger.
Um dos animais mais semelhantes às pessoas a este nível, e um modelo preferido para os cientistas que estudam as coisas do coração, são os ratos das pradarias, que mantêm relações monogâmicas de longa duração. Sabe-se que, quando estes ratinhos estão emparelhados, o nível de dopamina sobe 50 por cento e que quando injectam um bloqueador deste neurotransmissor, o interesse da fêmea pelo macho desaparece.
O cérebro é rápido a reagir a esta droga (ao amor, claro). Segundo a equipa de Ortigue, a primeira faísca cerebral própria de quem está apaixonado dá-se 0,2 segundos depois de ver o objecto da sua obsessão, pelo menos na fotografia. Durante o primeiro ano de namoro, a fase mais apaixonada, a intensidade do que se vive está relacionada com o que se passa no cérebro.
A culpa pode ser de outra molécula, um factor de crescimento do sistema nervoso chamado NGF, que, durante o primeiro ano de namoro, foi encontrado na corrente sanguínea em concentrações maiores do que em pessoas que não estavam numa relação ou que estavam num relacionamento com dois ou mais anos. Segundo Enzo Manuele, o investigador italiano que conduziu este estudo em 58 pessoas nesta situação, esta molécula foi associada à construção de ligações entre pessoas.
Mas a NGF não mantém nem relações, nem o estado amoroso. Dos 58 indivíduos observados,39 permaneceram mais do que um ano com a pessoa com quem estavam. A equipa da Universidade de Pavia voltou a analisar a quantidade desta molécula e verificou que a concentração de NGF tinha descido para níveis normais, assim como o grau de paixão. O amor, no entanto, continuava.
Como um bolo de chocolate!
O ano-paixão pode não ser suficiente para a Natureza. Uma das teses que explicam o desenvolvimento evolutivo do amor defende que as relações duradouras são uma óptima forma de manter um casal unido tempo suficiente para criar os seus filhos. E que o cérebro altera-se durante esse tempo.
A ocitocina, por exemplo, é uma das hormonas que parece ter um papel importante na manutenção de relações ao longo do tempo nas pessoas e também nos ratos da pradaria. A libertação desta hormona acontece durante o toque e o acto sexual e pensa-se que promove a ligação entre o casal.
Um estudo conduzido por uma equipa de investigadores da Universidade de Nova Iorque mostrou que a actividade de muitas regiões do cérebro se vai alterando à medida que o tempo de relação aumenta.
Um dos animais mais semelhantes às pessoas a este nível, e um modelo preferido para os cientistas que estudam as coisas do coração, são os ratos das pradarias, que mantêm relações monogâmicas de longa duração. Sabe-se que, quando estes ratinhos estão emparelhados, o nível de dopamina sobe 50 por cento e que quando injectam um bloqueador deste neurotransmissor, o interesse da fêmea pelo macho desaparece.
O cérebro é rápido a reagir a esta droga (ao amor, claro). Segundo a equipa de Ortigue, a primeira faísca cerebral própria de quem está apaixonado dá-se 0,2 segundos depois de ver o objecto da sua obsessão, pelo menos na fotografia. Durante o primeiro ano de namoro, a fase mais apaixonada, a intensidade do que se vive está relacionada com o que se passa no cérebro.
A culpa pode ser de outra molécula, um factor de crescimento do sistema nervoso chamado NGF, que, durante o primeiro ano de namoro, foi encontrado na corrente sanguínea em concentrações maiores do que em pessoas que não estavam numa relação ou que estavam num relacionamento com dois ou mais anos. Segundo Enzo Manuele, o investigador italiano que conduziu este estudo em 58 pessoas nesta situação, esta molécula foi associada à construção de ligações entre pessoas.
Mas a NGF não mantém nem relações, nem o estado amoroso. Dos 58 indivíduos observados,39 permaneceram mais do que um ano com a pessoa com quem estavam. A equipa da Universidade de Pavia voltou a analisar a quantidade desta molécula e verificou que a concentração de NGF tinha descido para níveis normais, assim como o grau de paixão. O amor, no entanto, continuava.
Como um bolo de chocolate!
O ano-paixão pode não ser suficiente para a Natureza. Uma das teses que explicam o desenvolvimento evolutivo do amor defende que as relações duradouras são uma óptima forma de manter um casal unido tempo suficiente para criar os seus filhos. E que o cérebro altera-se durante esse tempo.
A ocitocina, por exemplo, é uma das hormonas que parece ter um papel importante na manutenção de relações ao longo do tempo nas pessoas e também nos ratos da pradaria. A libertação desta hormona acontece durante o toque e o acto sexual e pensa-se que promove a ligação entre o casal.
Um estudo conduzido por uma equipa de investigadores da Universidade de Nova Iorque mostrou que a actividade de muitas regiões do cérebro se vai alterando à medida que o tempo de relação aumenta.
"Nos humanos evoluíram três sistemas cerebrais distintos mas inter-relacionados para copularem e se reproduzirem - a força sexual, o amor romântico e a ligação de longo termo com o parceiro - e os nossos resultados sugerem que os sentimentos de amor romântico podem evoluir para um sentimento de ligação",disse Helen Fisher, uma importante bióloga e antropóloga que há décadas estuda este tema. No mesmo comunicado, a cientista conclui: "O nosso resultado confirma o que as pessoas sempre assumiram - que o amor romântico é uma das mais fortes experiências humanas. É definitivamente mais forte do que o sexo." A prova final de que as relações de longa duração têm mais força do que o sexo ocasional são as rupturas, muitas vezes acompanhadas por um enorme sofrimento. Segundo Fisher, cerca de 40 por cento das pessoas que são rejeitadas pelo companheiro/a entram em depressão clínica, além de poder haver suicídios e homicídios à mistura. Em contrapartida, diz a cientista, "se alguém rejeita os avanços sexuais de outra pessoa, essa pessoa não vai fazer mal a ninguém".
Dito isto, a questão que podemos colocar é, se ao compreendermos o que é o amor e a forma como amamos, deixamos de viver a experiência de forma romântica. Numa reportagem da Esquire, Fisher responde a esta pergunta com uma imagem: "Eu posso conhecer cada ingrediente de um pedaço de bolo de chocolate, mas quando me sento para comê-lo, continuo a sentir alegria." Há outra coisa que compreender a base neurológica do amor romântico não nos retira - o mistério. Não sabemos por quem nos vamos apaixonar, nem porquê, nem quando.
Dito isto, a questão que podemos colocar é, se ao compreendermos o que é o amor e a forma como amamos, deixamos de viver a experiência de forma romântica. Numa reportagem da Esquire, Fisher responde a esta pergunta com uma imagem: "Eu posso conhecer cada ingrediente de um pedaço de bolo de chocolate, mas quando me sento para comê-lo, continuo a sentir alegria." Há outra coisa que compreender a base neurológica do amor romântico não nos retira - o mistério. Não sabemos por quem nos vamos apaixonar, nem porquê, nem quando.
´Muitíssimo interessante este artigo e esteve mesmo adequado para o dia de S. Valentim
ResponderEliminar.Romantismo, afecto liga muito bem com música. Quem não fica emociado com uma dedicatória musical! Ou com uma serenata! Não há doença que resista1
Muitos Parabéns, meninas.
Prof Ap